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Cesárea bem indicada pode ser humanizada e salvar vidas, avalia médica

A fotógrafa Michelly Cristina deu à luz pela segunda vez aos 36 anos. Quando descobriu que estava grávida, decidiu que iria mudar de estilo de vida. O objetivo era evitar uma segunda cesariana, já que o sonho do parto normal já tinha sido adiado uma vez.

Michelly seguiu todas as recomendações médicas, fez todos os exames e consultas, mas no segundo trimestre de gestação teve uma surpresa: o pequeno José Benício já estava maior do que o esperado para a idade gestacional.

A partir daí, a frequência dos exames e consultas precisou ser maior. Com 34 semanas começaram as oscilações de pressão e três semanas depois, a indicação temida: uma nova cesariana. Mesmo com 37 semanas de gravidez, a orientação era de que o parto fosse realizado em virtude do peso e tamanho do bebê que à época já pesava 4 kg.

A médica ginecologista e obstetra Michelle Rocha explica que, na medicina, o caso de Michelly e José Benício é chamado de macrossomia fetal, o que pode acarretar riscos para mãe e bebê.

“Quando o bebê é grande demais, deve-se considerar o risco de distocia de ombro e lesão de plexo braquial, portanto é razoável programar a cesárea eletiva. Durante o trabalho ativo de parto, também podemos identificar uma desproporção real no tamanho do feto em relação à pelve materna, o que significa que o tamanho da cabecinha do bebê não é compatível com a pelve materna, então temos uma indicação de cesárea”, pontua.

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A fotógrafa Michelly Cristina e o pequeno José Benício. Foto: Arquivo Pessoal

No caso de Michelly, depois de considerarem os riscos, a fotógrafa e o marido decidiram acolher as recomendações médicas. Mais uma vez, o sonho do parto normal não se concretizou, mas a fotógrafa garante: “está tudo bem. O mais importante é que fizemos um procedimento seguro, que era o melhor a ser feito no momento”.

O caso de Michelly ilustra a realidade de milhares de brasileiras que, muitas vezes, precisam optar pela cesaáea como forma de assegurar o bem-estar dos filhos, além da própria segurança.

“Quando bem indicada, em alguns casos muito bem consolidados, a cesárea salva vidas. Nós devemos usar todo conhecimento, tecnologia e estrutura que temos hoje para entregar um parto seguro, garantindo saúde para mãe e bebê”, enfatiza a obstetra Michelle Rocha.

INDICAÇÕES – Ao todo, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) preconiza 14 indicações consolidadas de cesárea. Além da macrossomia, a médica Michelle Rocha cita dois casos frequentes que são amparados pela recomendação: a gestação gemelar e os casos de acretismo placentário.

No caso dos gêmeos que dividem a mesma placenta, os médicos realizam o acompanhamento da evolução e alterações da gestação gemelar. Já nos casos de acretismo placentário, a cirurgia cesariana é o fator definitivo para salvar as duas vidas na mesa de cirurgia.

A condição representa uma alteração da placenta que se adere ao útero. A principal complicação é a hemorragia e, mesmo com todo avanço tecnológico, a taxa de mortalidade nesses casos ainda é de 7%.

Além de 14 indicações consolidadas, a Febrasgo ainda menciona 22 indicações relativas de cesariana. Além das indicações, a cirurgia também pode acontecer por solicitação materna, isto é, quando a gestante escolhe passar por esse tipo de parto.

Independente do caso, a obstetra Michelle Rocha destaca que, ao contrário do imaginário popular, a cesárea pode sim ser um procedimento humanizado.

“Ser humanizado consiste em indicar corretamente o parto, respeitar a mulher e fornecer um ambiente acolhedor. Até mesmo em casos de urgência e emergência é possível oferecer humanização”, afirma. “O mais importante é que a via de parto escolhida considere a segurança da mamãe e do bebê”, acrescenta.

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