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Dialog

Não há “receita de bolo” para lidar com as pragas das lavouras

Produtor rural precisa de informação e conscientização, enfatizam especialistas no II Seminário Mato-grossense sobre Manejo de Resistência

“A resistência é um problema mundial. E os agricultores esperam, muitas vezes, que as empresas lancem um produto que solucione tudo, mas isso não é possível. É preciso ter um objetivo estratégico de futuro e fazer com que Mato Grosso seja reconhecido mundialmente como produtor de commodities sustentáveis. E para sensibilizar o produtor, é necessária muita informação”, disse Sérgio Bromoschenkel, fitopatologista da Universidade Federal de Viçosa (UFV) na abertura do II Seminário Mato-grossense sobre Manejo de Resistência, nesta terça (23), em Cuiabá (MT).

Durante a manhã, especialistas falaram sobre uma “visão holística sobre a resistência”. Bromoschenkel ainda ressalta que “a evolução da resistência é um processo natural e ela se agrava quando são usados os mesmos produtos várias vezes na safra, safra após safra. Assim, perdemos a opção de controle, o que compromete a produtividade e a rentabilidade, por consequência”. O mediador do painel, Ivan Pedro, da Fundação Mato Grosso, salientou que a discussão é essencial para apontar os problemas e as responsabilidades de cada elo da cadeia.

Os órgãos de fiscalização mostraram o trabalho realizado para que os produtos disponíveis no mercado sejam eficientes e medidas fitossanitárias sejam aplicadas para combater a resistência. Hideraldo José Coelho, diretor substituto de Defesa Agropecuária do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), falou sobre os critérios para a priorização de registros de produtos de controle fitossanitário, sobre o reconhecimento do “refúgio” como medida fitossanitária, entre outros.

“O tema resistência é complexo e precisamos trabalhar de forma integrada. Além do que já desenvolvemos, estudamos ações específicas de regulação e fiscalização dos produtos químicos pós registro. Queremos saber se está funcionando, como está funcionando, ou se o produto perdeu a eficiência”, afirma Coelho. Já Antônio Marcos Rodrigues, fiscal agropecuário representante do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), apresentou a estrutura do órgão e como são feitas as fiscalizações dos vazios sanitários da soja e do algodão.

O painel sobre entomologia começou com a apresentação dos resultados dos estudos do entomologista Rafael Pitta, da Embrapa Agrosilvipastoril, no monitoramento de lagartas. “Fizemos avaliações no estado todo sobre o nível de suscetibilidade destes insetos aos inseticidas ou às plantas BT. É um comparativo: se morreu número de lagartas no campo semelhante ao laboratório é um sinal de que no campo está suscetível. Se veio de uma área que o produtor reclamou que não tem controle e no laboratório a gente identificou que as lagartas morrem, então não é resistência, é uma falha na tecnologia de aplicação”, explica.

Pitta salientou que a ideia do monitoramento é identificar quando o problema começa a surgir. “É estratégico para tentar evitar o problema. Como avalia o comportamento para várias moléculas, dá uma opção para o produtor. E por isso insistimos em um plano estadual de manejo de resistência, porque precisamos que sejam ações personalizadas para cada região”, afirma.

A entomologista da Fundação Mato Grosso, Lúcia Vivan, trouxe os resultados da rede de ensaios de inseticidas para percevejo e mosca branca. “Concluímos que a eficiência para percevejo fica entre 60% e 80%, por isso é importante manejar bem a população. Para a mosca branca, os produtos ofereceram bom controle, tanto em baixa como em alta infestação”, informa.

A pesquisadora ressalta que é preciso chamar a atenção para estas duas pragas, pois têm plantas hospedeiras e a população estará presente no campo independente da cultura de soja. “Por isso, é importante termos um período de cultura de soja e não o estender para não ter deslocamento desta população e a sobrevivência por um período grande. Se isso acontecer, precisaremos ter um maior controle e há risco da evolução da resistência”, frisa.

Daniela Okuma, agrônoma e representante do Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) destaca que a rotação de produtos e culturas, em si, não é difícil de fazer, o monitoramento da infestação da praga em campo que é mais complexo. “Atualmente, há muita tecnologia sendo criada por startups para facilitar este trabalho, como o monitoramento remoto, por exemplo. Lá na frente, a mistura não será a solução das coisas”, afirma.

Guilherme Rolim, do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA-MT), falou sobre o controle do bicudo do algodoeiro e, também, ressaltou o monitoramento como ação mais eficaz. “O algodão é uma cultura cara e não tem amador neste trabalho. É importante frisar que não há receita de bolo, é preciso monitorar com eficiência”, finaliza.

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